Galera a reportagem é uma entrevista de brasileiros apaixonados pelo continente africano e decidiram compartilhar com o mundo a beleza do lugar com um projeto chamado Afreaka. Vou deixar o link do site do projeto la em baixo.

O continente africano sempre foi, e sempre será, um grande mistério. A riqueza do povo africano, culturas, valores e identidades, fazem do continente uma das maiores riquezas naturais do mundo.
A África sempre foi maltratada pelo Ocidente. Hoje explorada pelo Oriente, e ainda pouco conhecida do ocidente contemporâneo. Para nós brasileiros ainda é uma grande dúvida, com muito mistério, mas só quem conhece a África de perto, sabe o quanto realmente o continente tem um valor fundamental na história universal, e principalmente na razão de nossa existência.
Os brasileiros precisam conhecer melhor a África. Adentrar neste continente significa conhecer a base da humanidade. É conhecer um dos maiores “caldeirões” culturais do universo, sem contar a construção de histórias de sociedades que já não existem mais, mas que pelas raízes, ainda sobrevivem no dia-a-dia de cada africano.
No Brasil existe um fantástico projeto que tem como objetivo mostrar esta África, misteriosa, rica, cultural, musical, dançante, ritualistica, entre outros valores.
O projeto AFREAKA, http://www.afreaka.com.br é o verdadeiro encontro da vontade brasileira em conhecer o universo africano e produzir conteúdo e conhecimento com alta qualidade. O projeto liderado pelos brasileiros, Flora Pereira e Natan de Aquino, mostra o quanto a sede de saber e conhecer pode transformar educação e cultura em algo superior para os nossos estudantes brasileiros.
O Blog EXAME Brasil no Mundo conversou com Flora Pereira. Além das viagens produzindo cultural e material sobre a África, Flora Pereira e Natan de Aquino, desenvolveram um portal para compartilhar todo conhecimento produzido com estudantes brasileiros, e o projeto, além de apresentar toda história cultural e material da África, tem continuidade de aplicações e novos conteúdos sobre o continente.

Brasil no Mundo: Como nasceu o Projeto Afreaka?

Flora Pereira: Sempre me interessei por África. Quanto mais eu estudava sobre a história e cultura do continente, mais ficava surpresa com o estereótipo e percepção que temos no Brasil. Em 2009, visitamos o Marrocos. E a viagem foi cheia de surpresas nesse sentido e nos ajudou a quebrar muitos paradigmas sobre verdades prontas da África. Também percebemos que muitas pessoas e jornalistas que visitavam o continente voltavam sempre com a mesma versão da história, sempre contando um único lado, já explorado e conhecido. Tínhamos planos de ficar um ano trabalhando em nossas áreas em algum país da África e após alguns brainstorms, surgiu a idéia de viajar a África mostrando o lado que nunca é mostrado nas grandes mídias. Criamos então o site Afreaka, que fala de uma África cool e descolada, fora dos estereótipos.

Brasil no Mundo: Quais os grandes objetivos do Afreaka? E os projetos futuros?

Flora Pereira: Nosso grande objetivo é e sempre foi a quebra desse estereótipo, em várias camadas: educacional, social, midiática. Assim tentamos atuar em diferentes áreas, trabalhando para que o conteúdo do projeto seja cada vez mais acessível, não apenas no mundo das mídias sociais, mas também em escola, bibliotecas e exposições. Agora depois de duas viagens e 15 países visitados, temos muito conteúdo para ser trabalhado e estamos tentando utilizá-lo em diferentes plataformas: tanto artísticas, educacionais e documentais. Com isso, procuramos a valorização da cultura africana, e que as pessoas se conscientizem sobre a forte influência que ela tem em nossas vidas. A idéia do Projeto Afreaka não é discutir apenas o continente africano, mas, sobretudo, a sua produção cultural e intelectual, o enxergando como um espaço ativo, protagonista. Ao desmitificar a imagem estereótipo do continente, rompe-se um fluxo de informação negativa que permeia o conteúdo hoje disposto em parte das redes de ensino e das grandes mídias brasileiras. Tentamos falar do outro lado da história, muito menos abordado: uma África proativa, inovadora, positiva e que, ao nos indicar muitos exemplos a serem seguidos, quebram uma linha pejorativa atribuída a cultura africana e afro-brasileira. A proposta também é reforçar de maneira extracurricular a Lei 10.639/03, que obriga o ensino da história e da cultura afro-brasileira nas escolas, que ainda não foi implementada de maneira integral, ao trazer um conteúdo inédito no Brasil. A linha editorial procura trabalhar o olhar do brasileiro sobre si mesmo e a ligação do país com o continente africano. Somente no nosso vocabulário são mais de 1500 palavras de origem africana. Além de nossos costumes, linha de pensamento, higiene, tradições, culinária etc. que são intrinsecamente ligados à cultura do continente irmão. O Afreaka tenta suprimir a falta de conteúdo, principalmente sobre a contribuição histórico-social e cultural dos descendentes de africanos ao país e desmitificar para o jovem a imagem passiva do negro e da sua história no Brasil, abordagem que constrói uma percepção problemática e racista no imaginário coletivo do próprio brasileiro, que deveria desde o começo do seu processo de educação, enxergar a cultura negra como protagonista e formadora da sociedade atual. Para isso, em termos práticos, estamos agora preparando um livro com o conteúdo que trouxemos da primeira viagem e algumas exposições sobre o conteúdo da segunda etapa.

Brasil no Mundo: De todos os países visitados na África, qual foi o que mais inspirou o projeto? E por quê?

Flora Pereira: Visitamos inúmeros países que nos encantaram. Na primeira viagem, foram oito países, e foi impossível escolher um favorito. Já nessa segunda, dos sete países, ficamos um pouco mais impressionados com o Mali. As experiências que tivemos em Bamako e País Dogon foram inesquecíveis. A impressão era de que estávamos voltando ao passado e viajando ao futuro ao mesmo tempo. A vida é orgânica ali e a história e cultura são abundantemente ricas. Outro highlight foi Lagos, na Nigéria, que quebra qualquer estereótipo que você possa ter. Uma cidade gêmea a São Paulo, com arranha-céus, trânsito ehipsters. Não apenas no Mali e Nigéria, mas em cada país que passamos, um dos pontos mais interessantes é fazer as conexões entre África e Brasil e aprender pouco a pouco mais sobre nossas origens, descobrir tradições, costumes, hábitos e comemorações que te fazem sentir em casa.

Brasil no Mundo: Depois de tantas experiências e viagens, como vocês observam a África? Quais as aprendizagens?

Flora Pereira: Sem dúvida como um continente protagonista. No site, tentamos a todo momento mostrar a história contada pelos próprios africanos, suas próprias versões. Pregamos pela visão de igual para igual, sem um olhar superior. As aprendizagens foram muitas, entre elas a noção de humanidade e hospitalidade. Brincamos que a hospitalidade africana deveria ganhar um Nobel. Fomos inúmeras vezes convidados por famílias para sermos recebidos em suas casas. Aceitamos todos os convites e acredito que estas são as lembranças e experiências mais fortes. O carinho, a dedicação e a oportunidade de conexão que nos ofereceram foi enriquecedora. Às vezes a impressão é que passar uma semana com uma criança, adulto ou idoso em sua casa é como ter acesso à uma grande biblioteca de sabedorias. O aprendizado é profundo, intenso e cíclico.
Fomos com o objetivo de romper estereótipos, mas não imaginávamos que seria tão fácil nesse sentido. São tantas iniciativas inovadoras, artistas geniais, movimentos descolados que tínhamos que selecionar sobre o que falaríamos de acordo com o tempo que tínhamos disponíveis. A imagem da África no Brasil é completamente desfigurada. O continente é muito mais urbano do que se imagina, e a mistura tradição x contemporâneo muito mais complexo do que a mídia transmite. Outra grande aprendizagem foi a descoberta e reafirmação do quão africanos somos, do quão a cultura africana está presente no nosso dia a dia, desde a alimentação, hábitos diários e vocabulário. É possível se sentir em casa a todo momento.

Brasil no Mundo: Por mais que a África seja o berço do mundo, muito tem que se explorar. Como vocês avaliaram esta relação entre “berço do mundo” e civilização ocidental?

Flora Pereira: Não sei se entendemos bem a questão, mas o que posso dizer que o que nos marcou é a riqueza e profundidade cultural das tradições africanas. Justamente por ser o berço do mundo, estas tradições são milenares, complexas, desenvolvidas. De maneira geral, a sabedoria africana está mais perto da natureza, e vive com ela uma relação mais intrínseca do que a civilização ocidental. Na África, cultura, religião, arte, costume, comida são inseparáveis, uma vez anexada da outra. É difícil analisar cada conceito separadamente, se não impossível. As teorias são funcionais, são mais complexas e elaboradas. Talvez seja essa a diferença, o mundo ocidental é relativamente novo comparado ao berço da humanidade. No entanto, existe um fluxo de informação entre os dois mundos. Um fluxo que é enxergado muitas vezes como unilateral. Nós descordamos, acho que a África não é passiva das influências ocidentais. Existe sim muitas influências, mas acreditamos que são escolhas. Os africanos se apropriam das novidades e a transformam em africanas, inovando e reformulando os conceitos dentro da própria cultura. E se pararmos para pensar, o processo no Brasil, não é tão diferente.

Brasil no Mundo: Daqui para frente, como o Projeto Afreaka continuará? Novas Áfricas? Ou Ásia?

Flora Pereira: Ásia não está nos planos do Afreaka. O foco é África ou africanidades no Brasil, que nossa área de atuação. Claro que para dois apaixonados por viagens, nunca descartamos possibilidades. Mas pretendemos continuar na África, afinal visitamos apenas 15 países. Faremos viagens mais curtas e os próximos destinos desejados são Angola e Etiópia. No entanto, ainda não temos data para isso. Estamos com muito conteúdo para ser trabalhado. Queremos usá-lo em novas plataformas e aproveitá-lo antes de uma terceira viagem. Temos inscrito o projeto em vários editais de exposições, livros, documentário e no setor educativo. Quando estes projetos estiverem concluídos, partiremos para uma nova etapa de captação de conteúdo, que pode inclusive acontecer no Brasil. Por ora, o site está crescendo com a colaboração de escritores convidados e voluntários, que contribuem com excelentes artigos e reportagens apaixonadas. E ficamos muito felizes com o interesse e objetivo em comum de outras pessoas.


http://exame.abril.com.br/rede-de-blogs/brasil-no-mundo/2014/07/28/afreaka-brasileiros-que-mostram-a-beleza-da-

africa/http://www.afreaka.com.br/ <- site do projeto

Thaina karolina n° 37  3°A


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